Uma dor acanhada.
Enquanto toda gente
Vive em busca da alegria
Eu sonho uma dor diferente a cada dia
Uma dor acanhada, uma pequena conta de colar
Pronta pra ser esquecida, quando amanhecer
Pedaço diminuto de vida
Pra gente prosseguir tendo a mania
de esquecer, deixar de lado ou não querer lembrar
Fazer de conta que inexiste
Voltar a viver somente
Hora a hora, mês a mês
Se tiver de doer e chorar
Seja uma pequena dor de cada vez
Assim vamos roendo a vida, que nos rói de volta
Consumindo o tempo, até que o tempo nos consuma
Numa via de mão dupla
A gente ruma a vida, vida nos rumina
Dor é coisa que não tem nenhuma graça
Mas que nos apruma, quando ela termina
Pedra no dedão
Dor no olho a olhar o Sol
Alegria que se vai, que passa
Que abrange o abrigo, a desculpa, o castigo
Não caiu do muro
Nem viu dor de ser criança
Caminhar o escuro, rumar sem sentido
Gira tudo tão depressa
A gente nem percebe
Não fazer ruído, chamar atenção
É o tempo de um susto
Dor que dói sem mostrar onde
Dor amiga, por amigos que não eram
A dor era melhor, apesar de inimiga
Não querer dizer e nem poder chorar
Tem dias que faz sol, noutros não
E deixar-se ali ficar, no chão
Fingir que chora a dor alheia
Faz de conta, dor inteira é meia
Dor de dente e coração
Leva o tempo certo de aprender
Dor que te apequena
Excesso ou falta de atenção
De pensar na indiferença
Por não ser mais nada
Nada, além de dor
Pôr em paz, em calma, em vida
Todo mundo sonha um dia
Com tristeza na alegria
Conta o tempo
Vivendo e vivendo e vivia
Até parece que acabou-se antes da hora
Dá impressão que foi vivida toda de uma vez
Todo mundo conta com alegria
e chora.
Hora a hora, mês a mês.
Edson Ricardo Paiva.