A LENDA DO HOMEM BOM
Voltou da padaria sem o pão,
deixou pra quem dormia na calçada,
vestiu o filho com roupa surrada,
decorada de remendos...
Mãos unidas contra o vento,
o mundo inteiro era o destino.
Ruas cheias, quanta gente,
e parece que ninguém vê ninguém,
um mundo desumanizado,
de gente cada vez mais sozinha.
Uma Igreja, portas abertas,
se ajoelham no altar,
o pai junta as mãos do filho,
lembra a ele que só precisa agradecer,
porque Deus ajuda a quem menos pede.
Na saída,
uma aquarela de mãos estendidas,
suplicando ser ali escolhidas,
pra receber das mãos de outro pobre,
uma esmola que lhe salve a vida,
nessa tela de sofrimento.
Bolso vazio, coração apertado,
pior que ser pobre,
é não poder ajudar outro.
O filho com a mão no bolso,
saca as poucas moedas,
guardadas para um picolé,
distribui aos "irmãos" sem nome,
sem receio da escolha feita.
Toda lenda tem "cheiro" de verdade,
e há lendas que se tornam histórias...
Tem aquela do homem bom,
e a do filho que se torna homem.