Palestra
Uma vez sobre um banco de praça
(Sofregamente pelo tempo carcomido)
Estava eu a soluçar minha desgraça:
O Malfadado de um dia haver nascido!
E de repente um velho aproximou-se;
Com a mesura educada de um bom dia,
E junto à mim, distintamente acomodou-se
Qual um faltasma que buscasse companhia!
Que fazes tu, assim num dia tão aberto? Sentado aqui; reclusamente afastado?
Me perguntou, e pra não ser mal educado
Lhe respondi: a solidão requer deserto!
Ele sorriu por me ouvir filosofando
Pigarreou , e se calou contemplativo...
Mas e o senhor, eu exclamei lhe perguntando:
Que fazes tu, andas aqui por qual motivo?
Me respondeu com voz discreta e amistosa
Todos os dias eu caminho pela praça
Pensando a minha juventude tão saudosa
Olhando a vida e a rapidez com que ela passa!
Pois o que um velho de melhor pode fazer
É se arrastar e lamentar sua lembrança
Com a loucura da saudade a lhe envolver
Uma mistura de tristeza e de esperança!
Toda manhã com o olhar cataratado
Vislumbro o sol a estatelar-se na janela
E penso baixo, num tormento perturbado
Em minha morte, será hoje o dia dela?
Preclaro jovem, vá viver a existência
Que esta vida é veloz tal qual um vulto
E a velhice, a velhice é um insulto
Para a beleza e a vigorosa eficiência!