Corrida à meia-noite (Parte 1)

Enquanto corro,

neste paredão à meia-noite,

eu costumo parar.

Para me lembrar,

o motivo de estar a fugir.

E então lá vem ela,

a saudade.

Do seu sorriso,

do seu cheiro,

do acordar da manhã,

e do calor da noite.

E de cada despertar do dia,

pacífico e sem motivo,

de querer correr.

Mas hoje eu acordo,

sozinho e com frio.

Calço as minhas sapatilhas,

e vou correr,

até que ela não me alcance.

Apenas corro e vejo,

num cenário fútil e fraco,

coisas que enchem o meu desejo,

coisas ocas que me dão a ilusão,

de estar a correr para algo melhor,

para algo que nunca vi.

Mas mesmo assim,

eu continuo a correr,

porque é mais fácil,

correr e ignorar a voz da saudade,

a gritar loucamente por mim,

a querer consumir me,

a querer desgastar me.

Então,

eu corro e não paro.