Ecdise
Frente ao espelho ricamente luxuoso
Olhava a velha sua fronte corrugada;
Refletindo de um modo desgostoso
A juventude para sempre destroçada!
"Me parece ser a Morte o desenrasco
Para quem, qual indolente tartaruga
(Embargada pelo peso do seu casco)
Vai levando a tonelada de uma ruga!"
A visão daquele corpo carcomido
Com a voz tonitroante parecia
Lhe berrar, que no porão da nostalgia
Tudo jaz escuramente apodrecido!
Embebida nesta idéia Assombrosa
Que igual à um cão fiel lhe perseguia,
De maneira paulatina, a triste idosa
Foi descendo a suntuosa escadaria!
Almejando o conforto de um assento
Despencou sobre a cadeira no terraço
Dando alívio para o corpo famulento
Ofegoso de queixume e de cansaço!
Nesse instante pelo chão se arrastando
Na preguiça que sucede a digestão
Seu distinto animal de estimação
Lentamente ia à ela se achegando!
Uma cobra lindamente colorida
Que há pouco sua muda perpetrara
Reluzente, orgulhosa e exibida
Qual cristal que um perito lapidara!
De maneira esforçosa estendendo
A feiura do seu braço molambento ,
Pro seu colo foi a serpe recolhendo
E de perto bafejou-lhe este lamento :
Eis que o Tempo a beleza me levou!
Eu só posso criatura lhe invejar!
A Velhice todo viço me roubou
Quem me dera como tu me renovar!