Não me sonho mais voos solitários,

nem desejo estar assim, esfarelada pelo chão,

entre pedras e espinhos.

 

Mas, o poeta diz que carrego

muito peso nos ombros.

Olho o saco sobre eles

e imagino o peso a ser carregado,

a dor que disso advém.

 

Me agradece por só olhar e por voar.

Não há o que agradecer.

É mais fácil voar no precipício

com peso nos ombros.

É um voo solitário, mas todo voo

sempre chega a algum lugar.

 

Hoje voei escadas.

Pulei degraus com a força e a leveza

de quem não carregava esse peso nos ombros.

Desci mais rápido do que subi,

mesmo o peso do vazio sobre eles.

É que o carregava nos olhos.

 

Mas, o fui perdendo ao longo do caminho.

Descia, cristalino até chegar ao chão

e molhar a semente que ali, há tanto tempo, plantei.

 

Olhei o solo ao redor do pequeno caule da flor

que luta para sobreviver: vi meus pedaços,

molhados, nas frestas das calçadas...

 

Não desisto! Sigo!

Não me sonho mais voos solitários,

nem desejo estar assim,

esfarelada pelo chão,

entre as pedras e espinhos,

ou, gota a molhar,

com o peso da lágrima,

o cimento das calçadas...