E a barriga ronca

A cidade acorda com seu pesado choro

E a barriga ronca

O sol brilha toda a terra destruída

E a barriga ronca

Olhos cansados sem resquício de vida

E a barriga ronca

A prisão sem muros constrói a ira

E a barriga ronca

Humanidade é um título comprado

Cidadão de direito apenas laureado

A bóia fria é exclusiva do rejeitado

Mistura que cria mais um revoltado

Sem direito à vida e condenado à servidão

Limpa tanta casa e não tem nem o esfregão

Constrói tanta casa pra não ter nem o colchão

Se mata todo dia pelo bem do prato do patrão

Se mata todo dia pra poder comprar o pão

Come e é forçado a voltar à servidão

Vidas e vidas nesse criadouro de frustração

O ronco da barriga junta-se ao do coração

Fome geral sem saber do próximo prato

Vida tão insensível que já perdi o tato

Nossa vida não tem valor nesse macabro ato

E ainda falam que sou livre e devo ser grato