A APOTEOSE DE HÉRCULES 9/10

A APOTEOSE DE HÉRCULES IX – 12 junho 2022

Ali o heléboro branco ainda cresce,

porque o Oráculo de Delphos já avisara

a Licymnios e a Iolaus que ali seria

o local em que seu grande amigo morreria.

Mas sua dor não amainou nenhuma prece

e a Dejanira em sua ajuda então chamara;

que quando soube do que lhe acontecia,

em uma trave a seguir se enforcaria,

embora outra versão fale de espada,

que por sua própria mão no peito foi cravada!

Por algum tempo Hércules até pensara

de sobre ela executar a sua vingança,

mas Hylos sua inocência garantiu,

que a pobre princesa fora só enganada;

de qualquer modo, sua vida terminara,

em seu ato de total desesperança

e antes mesmo de Hércules partiu,

a dor moral do herói sendo aliviada,

mas suplicou que à sua mãe chamassem

e que todos os seus filhos convocassem.

Só que Alcmena achava-se em Tirinto

e seus filhos se encontravam espalhados;

alguns com ela em Tirinto se encontravam,

a maioria estando em Tebas a morar,

outros ao longo do Mediterrâneo cinto,

tantos de sua prole que havia semeados,

que tal paternidade alguns mesmo negavam

ou até dela jamais chegaram a escutar.

Hércules não podia por sua vinda aguardar

e a própria vida decidiu-se a terminar.

Ele teria decerto a seu pai Zeus

suplicado que em tal transe o ajudasse,

mas o pai dos deuses não quis interferir

e quando Hylos lhe falou que insistisse,

Hércules profecia recordou do grande deus:

Que nenhum homem vivo a Hércules matasse,

somente um morto o poderia atingir.

E como Hylos instruções pedisse

sobre o modo que deveria proceder,

disse-lhe o herói que tinha agora de morrer.

A APOTEOSE DE HÉRCULES X – 13 junho 2022

Não pretendia esperar pela agonia,

mesmo que às vezes desmaiasse só de dor.

“Jura-me agora que me transportarás

até o pico desta alta montanha,

que cada um de meus amigos cortaria

alguns galhos de Carvalho Imperador

que troncos de oliveira reunirás,

para acabar minha aflição tamanha.

Mesmo vivo na pira me deitarás,

que com os demais construir-me-ás!”

“Mas que não sejam trazidas carpideiras,

nem sacerdote de qualquer denominação

e que em silêncio o trabalho seja feito.

É o que requeiro de todos meus amigos,

durante as minhas horas derradeiras,

já que meus filhos para ouvir-me não estão

e nem minha mãe, de quem mamei no peito,

só os que partilharam de tantos meus perigos,

mas que não devem qualquer peã cantar, (*)

nem pela morte que sofrerei se lamentar.”

(*) Hino fúnebre de louvor ou lamentação.

“Porém de ti exijo ainda outra promessa:

mesmo que Iole, ainda que indiretamente,

tenha sido a causa de minha morte e sofrimento,

quero afinal garantir-lhe o seu futuro;

quero que jures de Zeus pela cabeça

que a tomarás por esposa firmemente,

que nela inspires favorável sentimento,

porque conheço teu coração e sei que é puro.”

Hylos concordou, profundamente perturbado

e o juramente foi então sacramentado.

Quando tudo se achava preparado,

Iolaos e seus mais fiéis guerreiros

para uma certa distância se afastaram,

quando Hércules ordenou que a pira se acendesse;

mas vivo estava, embora condenado

e não ousaram seus amigos derradeiros

lume acender no altar que prepararam;

então a Hylos ordenou que obedecesse.

“Senhor, jurei apenas a pira construir,

não me conformo que assim deveis partir!”