Memórias, saudades e reminiscências - Coletânea

Memória

Não tenho memória

Mas vaga lembrança

Esqueci da história

Que a vista alcança

Quiçá algum lapso

Deixou-me perdido

Não sou tão relapso

Para ter esquecido

Tenho a lembrança

A qual me convém

O tempo de criança

E quem não a tem?

Vaga Lembrança

Sóbrio em momentos tensos

Mas ébrio nos outros felizes

Na memória lapsos imensos

Da vida de variados matizes

Do melhor, vaga lembrança

O de pior, vivo na memória

Lembro ainda bem criança

Do início da minha história

De nada eu tenho saudade

Pois não soube fruir a vida

Que o faça na melhor idade

Até a jornada ser cumprida

Volto daqui a algum tempo

A negar o que acima disse

Depois de levar a contento

Uma vida que me redimisse.

Ilha da fantasia

Tive ilhas de felicidade

em um mar bravio e tempestuoso.

Ao me afastar destas ilhas,

à lembrança vem-me apenas

o oceano revolto de angústia,

melancolia e amargura.

Por isto não tenho saudade

de nenhum período da vida,

a não ser da infância,

pois vivia na ilha da fantasia

num mar de calmaria.

Reminiscências

Não tenho saudade de lugares ou pessoas,

a não ser do quintal da minha infância,

mas tenho saudade das fantasias, dos sonhos,

dos planos, projetos, ideais, ilusões...

Acho que tenho saudade da perspectiva...

Mas tenho um passado cada vez maior,

repleto de histórias boas para contar.

Ai, que saudade!

Ai que saudade dos sonhos

Dos planos e outras ilusões

Dos dias ingênuos risonhos

Dos namoros e das paixões

Ai que saudade da infância

Das brincadeiras de outrora

Da inocente extravagância

Da sombra do pé de amora

Ai que saudade eu já sinto

De todo bem ora presente

Vem como que por instinto

Saudade chega de repente.

Saudade Virtual

Tenho saudade do que não vivi

Das fantasias adultas e infantis

De tudo que realizar não atrevi

E das possibilidades mais sutis

Do amor que não foi declarado

Das paisagens que não avistei

Do amigo que não foi cativado

Da vida sonhada que não levei

Que estranha saudade a minha!

A Saudade se tem ao se perder

O que era bom quando se tinha

A minha não tem razão de ser.

Sonhos Juvenis

De repente uma saudade dos sonhos juvenis

De tantos planos que se perderam na estrada

Do escurinho do cinema e dos beijos de anis

Dos flertes e das juras de amor da namorada

Do tempo que pensava senhor do meu nariz

Da potência no momento da minha largada

Das coisas tão boas que por medo não as fiz

Da vida que levei e não a mudaria em nada

Pura nostalgia, tanto quanto antes, sou feliz.

Minha Melhor Idade

Dizem que envelhecer

É voltar a ser criança

Pode até não parecer

Mas há a semelhança

A minha melhor fase

Foi a distante infância

Lá está a sólida base

De suma importância

Pois o que sou agora

Devo bem ao que fui

Idoso muito embora

Esta infância me reflui.

Não reparei

Não reparei na beleza do caminho

Ouvi ruídos e não a bela melodia

Traguei sem degustar o bom vinho

Não cativei tão amável companhia

Não reparei na beleza do poema

Declinei do convite à contra-dança

Improvisei sem um grande lema

Deixei de alimentar boa esperança

Não reparei na grande conquista

Esqueci de esbanjar o belo sorriso

Quero contemplar tão bela vista

E ainda voltar-me para onde piso.

Distraído

Estive distraído com o futuro

Na obcecada busca do sucesso

Feito quem tateia no escuro

A cometer todo tipo de excesso

Estive distraído com projetos

Na insana execução dos planos

Que me custaram desafetos

E levaram-me a tantos enganos

Estive distraído com sonhos

Afinal por eles somos movidos

Porém pesadelos medonhos

Por más escolhas foram vividos

Estive distraído com afazeres

Próprios da rotina sem venturas

Eventuais efêmeros prazeres

Tornaram-se rugas prematuras.

marciusantos
Enviado por marciusantos em 17/12/2022
Reeditado em 28/12/2022
Código do texto: T7674036
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