HÉRCULES E ESPARTA

HÉRCULES E ESPARTA I – 22 MAR 22

Hérakles simplesmente não apreciava a paz

e decidiu logo a seguir punir Esparta,

em que viviam os filhos de Hippocoonte,

que contra ele antes haviam combatido,

como aliados de Neleus, que tanto mal lhe faz,

além disso de seu rancor nunca se aparta,

porque Eonos tinham matado junto à ponte,

um bom amigo que até ali o havia seguido.

A história narra que este homem audaz

só estava andando frente aos muros da cidade,

quando foi atacado por molosso bem feroz

e em autodefesa, com uma pedra o matou.

Mas aos filhos de Hippocoonte o cão falaz

pertencia e o treinavam para ferocidade;

a pedra o focinho lhe quebrou e após

vieram seus donos e Eonos por ajuda suplicou.

Mas Hérakles, ao correr para auxiliá-lo,

chegou tarde demais, fora espancado

até morrer e os seus executores,

ainda atacaram a Hérakles sem piedade.

Forte como era, se animaram a atacá-lo;

Em seu afobamento o herói foi dominado,

sem poder derrotar seus ofensores,

ferido na mão e na coxa com ferocidade.

Não só perdeu a clava que empunhava,

mas também o equilíbrio para a luta

e então no santuário de Deméter se abrigou,

onde Asklépios cuidou de suas feridas. (*)

A proteção da deusa o conservava

e os irmãos abandonaram a disputa;

mas Hérakles, tão só se recuperou,

julgou sua tropa fraca demais para tais lidas.

(*) O Esculápio romano, deus da Medicina.

HÉRCULES E ESPARTA II – 23 MAR 22

Foi então até a cidade de Tegéia,

na Arcádia, pedindo o apoio de Cefeus,

que tinha vinte filhos e bons soldados.

Primeiro o rei, para não deixar desprotegida

a sua cidade, ao entrar nessa odisseia,

se recusou, mas Hérakles, sendo um semideus,

havia de Athena recebido taça de bronze fundida,

que da Górgona continha os cabelos encantados.

Ao ser aberta, tais mechas reluziam,

com uma luz e potência semelhante,

embora não fosse de ação imediata,

mas os atacantes, ao perceberem o que era,

dariam as costas e dali logo fugiriam;

deu o escrínio a Érope, um dom vibrante,

a filha do rei, que subindo às muralhas nessa data,

quando o abrisse, aos inimigos morte gera.

Tal como ocorreu, Érope, no entretanto,

do artifício não precisou a mão lançar

e assim Cefeus, contra seu próprio julgamento,

aliou-se a Hérakles em sua expodição,

dando a tal filha grande razão de pranto,

que na batalha acabou ele por tombar,

com dezessete de seus filhos em tormento:

razão sobeja para a anterior hesitação!

Porém aos Espartanos derrotaram,

sendo morto Hippocoonte na ocasião

e os seus doze filhos perecendo;

tendo sido a cidade tomada finalmente,

a Tíndaro novamente entronizaram,

contudo impondo-lhe uma condição:

aos descendentes de Hérakles, caso ali comparecendo,

entregaria a cidade formalmente.

HÉRCULES E ESPARTA III – 24 MAR 22

Não se conhece bem por que razão

não tentou Hera ao herói prejudicar,

ao menos desta vez, talvez ainda ressabiada

do castigo que Zeus antes lhe impusera

ou simplesmente sem querer dar-lhe atenção

e destarte, Hérakles ergueu-lhe um altar,

em que a vítima a lhe ser sacrificada

devia ser uma cabra, consagrada a Hera.

Mas igualmente, ele erigiu um santuário

para Athena, como a deusa da justiça

e para Asklépios também uma capela,

além de outra já em Tigéia erguida;

uma famosa estátua em tal sacrário

mostra Hérakles sobrevivendo à liça,

com uma marca em sua coxa, quando apela

ao deus da medicina que lhe cure essa ferida.

Esse templo receberia a denominação

de Altar Comum para todos os Acadianos;

mais uma vez o mito aqui descreve

esses eventos anteriores à chegada

dos Helenos predispostos à invasão,

que essa Esparta pertencia aos Micenianos

e não aos Dórios, por um período breve,

até mais tarde ser por eles conquistada.

Também é fácil presumir que os “descendentes

de Hérakles” são as tribos dos Helenos;

sempre que o herói vai entronizar um rei

como custódio para os filhos seus,

se estabelecem justificativas convenientes

para que os Gregos conquistassem os terrenos

de Micenianos, Etólios, Pelasgos e sua grei,

partilha honrada pelos mitos dos Aqueus.