Um Trago

Tenho poucos amigos,

E dos poucos que tenho,

Pouco os vejo.

As conversas abstratas,

As risadas,

As besteiras,

E o ombro amigo,

Encontro no espelho,

Sou o eu,

Comigo.

O trabalho diário me consome,

Alimento a máquina para não ser engolido,

Me consumo,

Me desgasto,

E qual o sentido para isso tudo?

Qualquer dia me perco em mim,

E sumo.

E de lá,

Para casa, lar.

O que é um lar?

Refúgio ou prisão?

Um ambiente onde pessoas se reúnem para clamar,

"Re" clamar.

E voltam a se consumir.

Filhos,

Comida,

Dinheiro, (ou falta dele)

Projetos utópicos,

Alienação do indivíduo,

Descarrega o lixo produzido durante o dia,

E o revira,

Tentando achar sentido e algo de bom,

Em tudo isso.

E a vida?

Há um ápice.

Saudades do tempo em que a vida era plenitude,

Respirava a liberdade.

Sorria,

Corria,

Me lambuzei dessa tal pseudo alegria.

E quando lá em cima,

Sem saber que há mais para explorar,

Criamos prisões,

Gaiolas.

A responsabilidade burocrática e moralista,

Nos tranca e joga a chave fora.

Várias caixinhas,

Diversas razões,

E caminhamos,

Enterrando um pouco de nós a cada passo rumo a queda.

O corpo te cobra,

Te limita.

A mente se acostuma ao encarceramento.

Eu ainda escrevo…

Pobre daquele que nem isso faz.

Todo ato de rebeldia será recriminado,

O coletivo traçou o caminho,

Não quer fugas,

Mudanças de rumos e rotas.

Blinkers te dão a direção,

Sempre em frente,

Foco!

Visão!

E eu só buscando ser subversivo,

Acendo um cigarro escondido,

Um trago,

Antes que seja recriminado,

E reprimido.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 03/12/2022
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