Um Trago
Tenho poucos amigos,
E dos poucos que tenho,
Pouco os vejo.
As conversas abstratas,
As risadas,
As besteiras,
E o ombro amigo,
Encontro no espelho,
Sou o eu,
Comigo.
O trabalho diário me consome,
Alimento a máquina para não ser engolido,
Me consumo,
Me desgasto,
E qual o sentido para isso tudo?
Qualquer dia me perco em mim,
E sumo.
E de lá,
Para casa, lar.
O que é um lar?
Refúgio ou prisão?
Um ambiente onde pessoas se reúnem para clamar,
"Re" clamar.
E voltam a se consumir.
Filhos,
Comida,
Dinheiro, (ou falta dele)
Projetos utópicos,
Alienação do indivíduo,
Descarrega o lixo produzido durante o dia,
E o revira,
Tentando achar sentido e algo de bom,
Em tudo isso.
E a vida?
Há um ápice.
Saudades do tempo em que a vida era plenitude,
Respirava a liberdade.
Sorria,
Corria,
Me lambuzei dessa tal pseudo alegria.
E quando lá em cima,
Sem saber que há mais para explorar,
Criamos prisões,
Gaiolas.
A responsabilidade burocrática e moralista,
Nos tranca e joga a chave fora.
Várias caixinhas,
Diversas razões,
E caminhamos,
Enterrando um pouco de nós a cada passo rumo a queda.
O corpo te cobra,
Te limita.
A mente se acostuma ao encarceramento.
Eu ainda escrevo…
Pobre daquele que nem isso faz.
Todo ato de rebeldia será recriminado,
O coletivo traçou o caminho,
Não quer fugas,
Mudanças de rumos e rotas.
Blinkers te dão a direção,
Sempre em frente,
Foco!
Visão!
E eu só buscando ser subversivo,
Acendo um cigarro escondido,
Um trago,
Antes que seja recriminado,
E reprimido.