49 💠DUOLOGIA - PRISIONEIRO... PASSAGEIRO...
PRISIONEIRO TEMPORAL
Há de todo homem ter medo da não-existência
Do passar pelo portal e transcender
Se esvair e evanescer evaporando
Deixar o plano terrestre e deixar de ser mortal
Um temor assombra os corações e ronda as mentes
Nada mais natural
A eternidade chama aos sensíveis com um clamor sem igual
Lhes garanto que não lembramos nossa origem
Lá de onde viemos, nos fugiu a percepção há muito
Ao habitarmos este corpo de barro nos alegramos com o terreno
Como efêmeros temporais que somos
Não nos é permitido vislumbrar o que seremos
Nossa alma (etérea-nevoa) não se dá conta que o oco em que ela habita
Nada mais é que um corpo de barro perene
Que se desfaz na tormenta das eras
E então perecemos
Percorremos a estrada sem chegar ao fim
Nos levamos ou somos levados
Por esta enxurrada sensorial-emocional chamada vida
Mas por um breve momento
Numa gota, caindo e sublimando dentro da redoma que nos prende chamada tempo
Sucumbindo aos seus desígnios
Desejando de toda maneira ser
Chegará o momento em que não mais seremos
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PASSAGEIRO ASTRO VITAL
Enfim atravessei o portal que me conduz até a estrela viva
Num vôo sem asas onde a alma simplesmente flutuar-ia
O universo ao meu redor reluz
Cintila
Vejo o brilho da existência que no espaço rutila
Vibrando em cores, profusões de tons em matizes e nuances
Que eu nunca pensei imaginar que existiria
Sigo a luz ao entorno
Tudo é simplesmente maravilhoso!
Constelações cadenciam um balé esplendoroso
Num mar de brilho líquido que relfugem auroras de cristal mui glamouroso
Danço como nem sei se dançaria
Nesse passo intrinsecamente vicioso
Não sei ao certo quando cheguei
Nem sei se apareci ou me materializei aqui
Já não sinto mais as ondas que me impulsionavam rumo ao envelhecimento
Nem aquela sensação de ânsia incompleta que sucumbia à síntese dos momentos
O que preciso saber é que meu último passo dei, como quem nunca precisará mais voltar atrás
Então neste mover me contento
Existo e sou acontecimento
Sou a varredura da estrela
Seu pulso, calor e gelo
Sou arauto da existência
Proclamando pelo cosmos
Todo seu poder e desvelo
Flagelei-me pelas eras até não saber mais o que pensar
O que escrever
O que calar
Agora meu silêncio é meu silêncio
E há de bradar aos estelares ventos
Tudo que deixei de ser:
Um brevíssimo sonho em molecular fragmento
Sou passageiro e conduzente que num relâmpago e frêmito
Deixou de existir
Desfragmentado pelo universo
Sou a intersecção espiralar
Que num salto e relampejar
Já não mais "é" pelas eras o seu amante lunar
A mente do poeta já não existe mais
Mas num súbito portanto-jamais
Ela agora ri de tudo que nunca desvendara
Mas se satisfaz em saber "sendo" o que é na existência
A morte jamais há de o perseguir de novo
Nem o seu legado e alma
Poderão ser nomeados de mortais!
Um brinde ao poeta das eras
Uma ode ao seu atrevimento em achar que "era" e assim continuar escrevendo
Seu grito ressoa galático
E seus poemas permanecem
Jamais podendo serem apagados
Ou rasurados a contento!!
E de todas as vidas que teve
Desejando se tornar imortal
Seu desejo fora realizado
E a morte nunca mais será sua rival!
DEDICADO A LIMAYA (poetisa-gota de fragrância evanescente) E A DENISE FISSAN (poetisa temporariamente humana)
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