Menina de Franja nos Olhos

Também caminhei em busca da menina de olhos violeta e franjas nos olhos que um dia, numa viagem, encontrei surgindo diante de mim numa esquina de uma cidade que nunca fui. Mas estive lá.

Fiz morada entre os arbustos com medo de olhar para meus próprios olhos que, violetas e profundos, me diziam que faltava cor em minha vida.

Deitada na mesa onde me encontrava, os pés estendidos, se tocando sem se tocar, as mãos sobre o ventre, soltas, sem se cruzar, eu, olhos fechados a olhava e a via.

Mas seus olhos brilhavam tanto que não conseguia olhar direto. Ficamos lá, paradas na esquina. Então, assim como veio ela partiu, em direção contrária à minha. Eu a segui por um tempo, mas ela ia rápido demais. Logo, vi seus cabelos ruivos, meio avermelhados apenas. E foram indo, indo e sumiram numa nuvem.

Desde lá eu acredito que ela foi um anjo que me visitou para me mostrar que, posso ter aquela cor nos olhos. Posso ser como eu quiser, posso colorir meus olhos, deixar a franja sobre eles ou não. E se quiser correr pelas nuvens, por que não? Aprendi que as mudanças somos nós que fazemos e que o espelho reflete nossos sonhos, aquilo que mais desejamos.

Se vemos a beleza, nela vamos mergulhar, se vemos incertezas nelas vamos afundar.

Penso, que a lógica da vida é deixar-se ser quem se é. Se certezas ou incertezas o que muda? Depende o que fazemos com elas.

Uma pedra não sabe que pedra é, nem o seu valor. E, talvez, penso que nunca, saberá totalmente de suas preciosidades, de quem de fato é.

Então alguém a acha entre os seixos, leva pra casa, burila incansável aquela pedra bruta e sem cor. Com o tempo ela vai refletindo a beleza, as suas cores ao seu redor? O que mudou? Ela "ganhou" valor? Não. É a mesma pedra.

O seu tesouro, o seu valor, as suas preciosidades sempre estiveram lá, dentro dela. Mas só quem a encontrou

e a olhou com os olhos do coração, com alma pura, conseguiu ver o seu interior.

E o que fez? Apenas a ajudou a ser quem é. Leva tempo esse processo, dói porque sobram pó e sobram pó e lascas, que, muitos até jogariam fora, mas quem sabe o valor daquela dor, pega nas mãos, guarda como relíquia e, com o tempo, constrói um lindo mosaico de amor.

Sejas sempre quem és. Nunca se deixe abandonar. Não se deixe perder a essência, o cerne da vida que jorra em tua poesia, em tuas palavras que fazem viver, que entregam luz aos peregrinos que passam, se escondem, refugiam ou simplesmente colhem alguma flor em teu jardim.

Que seja sempre, independente do tempo, independente das horas, um terno, meigo, belo jardim de flores que dançam com o vento e acendem lamparinas de estrelas num céu que nossas mãos sabem tocar e por ele caminhar.

Te amo: eu também te amo. Te beijo: eu também te beijo.

Se amanhã, ou hoje, ainda, eu não estiver mais aqui, saiba que onde estiver, olharei sempre pra você, protegerei, cuidarei e amarei até nosso reencontro para mais uma jornada na eternidade de luzes.

E que tua poesia seja alento, acalanto e amor sempre. Que nunca te falte a verve pura e feliz, que te banhem de luz os deuses da palavra para o verbo teu tenha vida e caminhe, pés descalços ou de nuvem, o universo do conhecimento de si mesmo, do encontro da resposta de todas as tuas perguntas e, se, surgirem outras, que possas nunca desistir de as respostas em ti mesmo buscar. É lá, dentro de ti que ela está. A resposta. Que só você sabe. A resposta de tuas perguntas ao longo desses anos todos de densa procura. Se você sabe, não precisa mais procurar. Guarde-a, como pedra preciosa, joia rara, junto ao pó e as lascas, para que ela nunca se esqueça quem foi quando não se achava em si e quem é, quando foi encontrada por alguém que amou como nunca alguém a tinha amado.

Esses pedacinhos de retalhos são estrelas que tua mão colheu no jardim que, eu sei, é tua morada de luz, de paz e de amor. Caminhe por ele. Nunca vai se perder de ti pelas estradas que você mesmo construiu... em teus sonhos mais bonitos... Sonhe... continue sonhando... é o que temos de mais precioso, sonhar e fazer desses sonhos realidade na nossa e na vida dos que nos rodeiam... Somos luz... brilhemos como luz. Somos andarilhos de nós mesmos... que nunca deixemos de andar... somos céu... que carreguemos estrelas em nossas jornadas, somos terra... joguemos nossas sementes... serão nosso próprio alimento quando somos pássaros em nossos voos e revoos nas horas mais doces, mais meigas, mais intensas e belas - de água, de fogo, de tempestades, de calmarias, de paixão, amor e de paz -. Sejamos paz em nós mesmos, em nossa eternidade de luz que já é há milhões e milhões de horas do tempo do tempo.