Racional, mas animal

Humano

Não serás um animal?

És tão superior a ponto

De não se reconhecer como tal?

Por que demoniza algo intrínseco?

Será proibido aceitar seu instinto

A ponto de condenar o que é cíclico?

Diga-me, humano

Onde está a lógica de tanta negação?

Tudo isso que julgas sujo e imoral

É hipocrisia ou sua busca por salvação?

Se abster de algo tão seu é necessário?

Qual a justificativa para não se aceitar

E se obstruir em prol de um santuário?

Divino

Não queres que eu seja o que sou?

Tu que punes tão veementemente

Quem se encontrou, gostou e se libertou?

Por que é tão errado fazer o que quero?

Tenho que temer até o que desejo

A ponto de negar aquilo que tanto espero?

Diga-me, Divino

Qual o objetivo disso tudo?

Queres realmente que eu aceite

E engula minha angústia, mudo?

Se me fizeste animal, ainda que racional

Não esperastes mesmo que interessasse

Pela minha essência de forma natural?

Respondam-me!

Onde está o erro em querer me usar?

Onde está o erro em ser o que sou?

Onde está o erro em me libertar?

Buscando um prêmio que ninguém quer?

Como esperam que eu almeje o paraíso

Se para alcançá-lo eu tenho que morrer?

Perante vosso silêncio, eu respondo!

Vou viver o que tenho vontade

Afinal, minha racionalidade é limitada

E me desfrutar de mim, não é maldade!

Sou o que sou e não nego

O desejo por satisfação a mim pertence

Saibam que se os decepciono, eu nem ligo!

Eu

Quero luxúria, serei guloso e até irado

Sou animal pela própria natureza

Desfrutarei com soberba de cada pecado

Moralismo hipócrita? Esqueça!

Pois vocês não têm moral para me julgar

Se sua realidade diverge da sua cabeça!

Eu

Racional, mas animal!