Estação-mulher

Na primavera de meus dias

No mundo toque vagaroso

Miúdas mãos na seda das pétalas,

E no aroma delicado e airoso,

Do beijo cedo da primavera.

Na primeira formosa estação

Fui criança enfeitada de sonho

Coroada de borboletas

Da poesia um ser bisonho

Encantada pelas folha da hera.

Chegou o verão de meus dias

Tão quente, brilhante e fugaz

Fazendo-me moça bonita

Que tão sonhadora se faz

Vivendo as horas da espera.

O brilho do dia e porvir

O calor de vapores serenos

Levaram meu desencanto

Restando os sonhos pequenos

Ocaso da estação da quimera.

No outono estou a morrer

Em dias de pálida rotina

As folhas secaram, caíram

Foi-se embora a menina

Que agora é loba e é fera.

O chão é tapete de folhas

Eu piso o tempo gemente

Fui ontem o que não sou hoje

Mas lanço uma nova semente,

Para as gerações nova era.

O futuro é puro inverno

Gotejante, frio e profundo

Na neve debruço a pensar

Que na velhice acaba-se o mundo

Para quem o amor nunca gera.

Se nas estações primeiras

Cultivei o melhor de mim

No ocaso dos dias, inverno

Terei o retorno jasmim

De amores gerados na terra.

A estação-mulher é a vida

Com tempo para semear

Com tempo para colher

Justa medida de amar,

Paladar de amores tempera.