O inevitável
Os meus pensamentos tentam calar o óbvio, o inevitável. Minha mente vagueia em silêncio pela existência que me cerca, e se perde no transitório, em busca de uma esperança desgarrada por menor que seja. Mas enquanto o tempo se move, os minutos da minha hora se esgotam e qualquer esperança fica cada vez mais distante de se tornar realidade. A minha fé na transitoriedade vai aos poucos se transformando na certeza do fim, diante do estreitamento da estrada de mão única que é a vida. Tudo o que eu vivi e não vivi, fui e não fui, logo será nada, diante do vácuo da ausência da minha estadia por esta terra.
Alguns dirão que há como ser eterno, sendo lembrado, deixando um legado. Mas para mim, a "eternidade" de um legado só mantém acesa a chama de um fantasma que em nada mais se assemelha ao ser vivente que outrora ocupou o seu lugar. Ser lembrado é diferente de ser vivo, pois os mortos são como um texto, estático! com início, meio e fim. Já os vivos são voláteis. Se assemelham a discursos, que no ato de declamação, podem ser tudo o que ainda não foram, mudando assim, qualquer lembrança do que possa se fazer eterna sobre a sua personalidade.
Algumas pessoas me disseram que eu deveria escrever sobre algo belo e não trágico. Pensam que o belo é contrário a tragédia. Já eu acredito que a beleza tem muitas facetas e estéticas. Aceitar o destino irrevogável do esgotamento, mesmo que assustador, acaba sendo uma escolha bela, diante do ciclo dessa existência, onde a própria morte é condição necessária para que outros possam viver. Morrer pode ser o fim dessa história, mas sem a morte a vida não teria valor algum.