Gina
Gina tem um coração pesado e
em machucado não cicatrizado.
Que ganhou por se desequilibrar
ao descer de um caminhão.
Deixou para trás paisagens familiares,
o lar, o emprego e as amizades.
Ela foi em direção ao desconhecido,
equilibrando esperança e medo.
Levou os vestidos, as saias,
os saltos e as meias arrastão.
Colares, anéis, maquiagem,
e sua coleção de esmaltes.
Se despediu de algumas pessoas e
colocou fogo nos seus documentos.
Vendeu todas suas roupas de rapaz
por alguns reais no brechó.
Para começar de novo,
Foi preciso perder tudo.
Mas a dor que queria abandonar
levou na mala sem perceber.
Nas paradas de caminhões,
aprendeu sozinha a sobreviver.
Trocando seu trabalho
por dinheiro ou caronas.
Se acostumou com uma
cidadezinha de passagem.
Ali todos a conhecem e
agora faz parte da paisagem.
O som ritmado do seu salto
ecoa pela madrugada.
Mas ninguém escuta o som
de seu coração pesado.