O POETA E O RIO
A poesia é como um rio
a passar pelas nossas vidas ...
Quando ainda
na minha juventude
percebi a poesia ao meu lado
vivia calado
sentimento guardado
procurava meu lugar no mundo
Meu primeiro mergulho
em suas águas
foi como um sonho
como um espelho
a revelar minhas magoas
E cada palavra
que brotava de seu leito
aliviava meu peito
Por um tempo
caminhei ao seu lado
até perder-me na multidão
e na solidão dos dias
encontrando meu lugar
debaixo do sol
Distante
de suas corredeiras
de seus remansos
Foram tantos
pesadelos e sonhos
por noites inteiras
E depois
de muito viver
de andar por tantos lugares
a reencontrei
como quem reencontra
o mesmo rio, modificado
como o próprio caminheiro
Como uma janela
que se abriu primeiro
em meu coração
e depois
diante dos meus olhos
em uma dimensão
e profundidade nunca vistas
O poeta no entardecer dos anos
reencontrou o rio de poesia
como um grande fluxo de vida
de águas claras
correndo mansas e suaves
para um grande mar
de infinitas possibilidades
E a mais extraordinária
das descobertas
foi a de que
apesar de perder-me dela
ela jamais deixou-se perder-se de mim...
Cláudio Lima
“...foi um rio que passou em minha vida
e meu coração se deixou levar.”
Paulinho da Viola
Da música: Foi um rio que passou em minha vida
“Quem é que pode parar os caminhos?
E os rios cantando e correndo?
E as folhas ao vento?
E os ninhos? E a poesia?
A poesia como um seio nascendo...”
Autor: Mario Quintana
Poeta, tradutor e jornalista brasileiro (1.906 – 1.994)
Foto: Anoitecendo no Rio Paraíba -
Encontro com o mar no Dique de Cabedelo - PB Set/2022