A Revolta Contra o Cosmos
Tem dias que acordo com o ego vazio,
Estranho feito um copo cheio apenas de ar.
Enquanto me levanto do leito, me visto
E me preparo para o convívio público nas ruas,
Cresce e com muito incômodo a absurda
Contradição entre o desejo de em tudo colher significado
E o silêncio estrondoso do cosmos...
A desesperadora falta de sentido sobre o mundo e as coisas.
Me tornei, eu, um escravo, que com minha labuta diária
Apenas gero mais valia a quem explora
E que não carrega o suor dessa sofrida gente?
Me tornei, eu, um provável cadáver
A ser abatido pela indiferente natureza
Na brutalidade de um novo e pandêmico vírus?
Qual a saída para o buraco negro, o absurdo que é viver?
Buscar sólido dogma no suspeito salto da fé?
Consentir com o ensurdecedor silêncio
De que a vida não possui significado cósmico especial?
Abater de forma sepulcral o ânimo com a faca do suicídio?
Não cairá em meus ombros o cordeiro manto da aceitação,
A epiderme está coberta de rebelião contra tudo que é absurdo.
Nutrido de deficiências perante o abismo, sem saber de qual montanha falo,
Transponho todas as torpezas em mim, todos os vazios em mim,
O impossível e a caoticidade das coisas
São superados nos bons momentos vividos
E nos significados bastante subjetivos que a tudo dou.
O que me resta são as intensidades dos sentimentos,
Os valores que como marinheiro duramente construí nos cais sujos
Que povoam os mares e corroem os cascos dos navios.
Escalar a montanha mesmo com a sensação da vertigem,
Subir com pedras nas costas e sentir um constante cansaço.
Vivo assim as velhas memórias,
Descobertas em viagens,
Sabor do vinho tinto,
Tórridas noites com a amada,
Risos com amigos,
Leituras poéticas,
Conversas com os pais,
Calmaria do lar,
A vida como ela é,
Mas também como pode ser.
A audácia
Contra a morte,
Revolta rumo a
Vida de criação autêntica,
Estar presente no mundo,
Meu agir,
A felicidade.