Cotidiano
Desanda a perturbar todo o ambiente
Luz no visor, tecla apertada, silêncio
Chão frio, assim como a água que cai sobre a cabeça
Não é a mesma que está borbulhando na chaleira
Delicado apenas o perfume exalado no banho
Um pequeno chacoalhado no braço de um
Sutileza ao puxar a perna do outro
Reclamações misturadas com desejos de um dia bom
Vento, poeira, caminhar pela rua
Braço levantado, cheiro de freio, buzinas
Aqui está o seu troco, clique da roleta
Com licença, bom dia, obrigado
Escola estadual de ensino fundamental
Mais uma vez, me desculpe pelo atraso
Papéis, cobrança, medo, humilhação
E a mente girando sem saber no que pensar
O odor da comida, o bipe do microondas
Duas, três garfadas, vai dar tempo de descansar
Mensagens no aplicativo, tá tudo bem, estamos ótimos
O corpo esmorece, alardeado pela pergunta retórica
As contas não fecham, assim como a tampa da cafeteira
Não tem de onde cortar, a não ser esse pão vazio
Braço esticado, boa tarde, obrigado
Final de expediente, seguir sentido bairro
Um anjo no braço e o outro segurando a mão
Obrigado por tudo, tudo bem, até amanhã
Esse ano o Papai Noel deverá tirar férias
Mas se nada der certo, posso virar circense
Garantido ao menos o sustento dos dois
O leite quente que embala o ninar
A pilha de roupas que aguarda na área
E em um piscar de olhos, vejo o dia raiar