ORFANDADE
É perdoável que eu me sinta infeliz:
Em algum ponto do cosmo
E sem quaisquer manuais,
A sobrevivência, por vezes,
Concretiza-se em lágrimas.
É perfeitamente normal
Que eu cave até
Blasfemar a cova em que
Acredito resistir...
Incapaz de preencher sua fissura,
O olhar busca na paisagem
Um caminho que conduza a mente
A um ponto suave donde
A mentira da plena felicidade
Prolongue-se gentil.
Não sou ateu,
Não sou homem
E nem mulher.
Sou algo que a certa distância
Extenua-se ou pasma de interrogação
E faz do sexo
Algo fútil dentre a variedade dos prazeres,
Mas, também vital ao corpo
Que padece do sadismo
De gozar e fenecer.
É natural que desse
Íntimo mirante
Eu pragueje a inutilidade
De existir,
Pois tudo o quanto amo é poeira
Como eu,
Tudo o quanto tenho
É nada como eu,
E tudo o que é belo fere,
Se não pela verdade de ser horrendo,
Pela ilusão de que foi seu.