PASSANDO...

Passando pela rua

Num corre-corre frio, insensível

Na calçada, um corpo maltrapilho

Com o semblante da desilusão

Mendigava, ainda que um pedaço de pão

Passando numa esquina agitada

Entre sons de buzinas e motores

Um corpo cansado. Pela luta marcado

Um filho no colo, outros ao lado

Mendigava seu sustento, dignidade, ser cuidado

Passando diante de uma casa, na varanda

Numa cadeira, entre plantas, balançando

Um corpo velho, de olhar perdido

Em meio a lembranças, tanta decepção

Mendigava, apenas, por um pouco de atenção

Passando na noite, agito e boemia

Um copo vazio, corpo no balcão debruçado

Outro, jovem, tatuado, som, tido por desajustado

Uma bela, entre tantos braços

Mendigava, uma só palavra, um verdadeiro abraço

Chegando bem mais perto, uma família

Uma paixão, um amor, pura dedicação

Dispensa cheia, “check ins”, diplomas na parede

Um corpo a balançar na rede

Cansado de esperar, mendigava por carinho, sede

Ninguém teve tempo, atenção

Ninguém com um pedaço de pão

Ninguém com compaixão, compreensão

Sempre um celular à mão

Se sim, não; se talvez, não; se não, não.

Belo Vale, 24.07.2022

Antônio Moura Belo Vale
Enviado por Antônio Moura Belo Vale em 24/07/2022
Reeditado em 24/07/2022
Código do texto: T7566751
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.