PASSANDO...
Passando pela rua
Num corre-corre frio, insensível
Na calçada, um corpo maltrapilho
Com o semblante da desilusão
Mendigava, ainda que um pedaço de pão
Passando numa esquina agitada
Entre sons de buzinas e motores
Um corpo cansado. Pela luta marcado
Um filho no colo, outros ao lado
Mendigava seu sustento, dignidade, ser cuidado
Passando diante de uma casa, na varanda
Numa cadeira, entre plantas, balançando
Um corpo velho, de olhar perdido
Em meio a lembranças, tanta decepção
Mendigava, apenas, por um pouco de atenção
Passando na noite, agito e boemia
Um copo vazio, corpo no balcão debruçado
Outro, jovem, tatuado, som, tido por desajustado
Uma bela, entre tantos braços
Mendigava, uma só palavra, um verdadeiro abraço
Chegando bem mais perto, uma família
Uma paixão, um amor, pura dedicação
Dispensa cheia, “check ins”, diplomas na parede
Um corpo a balançar na rede
Cansado de esperar, mendigava por carinho, sede
Ninguém teve tempo, atenção
Ninguém com um pedaço de pão
Ninguém com compaixão, compreensão
Sempre um celular à mão
Se sim, não; se talvez, não; se não, não.
Belo Vale, 24.07.2022