Maligno Incremento
O amor não alcançado tem seu peso;
Um sucumbe, outro apenas lhe atura
Mas a carga inominável do desprezo
Fere a honra e da razão os olhos fura!
Sempre há em derredor um conhecido
Que choraminga do amor a desventura,
Que berra ao mundo como é desiludido,
Se punindo, pois quem ama se tortura!
Ou há aquele que andava convencido
De que o fracasso do amor não logra cura
E pelas chamas desta idéia consumido
Se ofertou à treva vil da sepultura!
Já o desprezado cujo orgulho foi ferido,
O tempo inteiro de domingo à domingo,
Pensa naquele que deixou-lhe ofendido
E balbucia: juro à Deus como me vingo!
Ainda ama quem sofreu a rejeição!
Se não se mata vai andar noutro caminho
Mas o negado com desprezo, faz um ninho
De ódio eterno no covil do coração!
Sem sua ira mitigar não quer morrer
E fica o ódio em sua cama a sussurrar:
"Há episódios em que temos que matar
Em que a vingança é o aval para viver!"