Triste solitude
Diziam que ele andava só,
Sempre calado,
Cabisbaixo,
Terno e gravata,
Com um torto nó.
Na realidade,
Uma multidão de pensamentos o acompanhava.
Tentando dar ordem à tudo,
Um cigarro acendia,
E com prazer,
Fumava.
A cada tragada,
As coisa se alinhavam,
Separava o joio do trigo,
Avaliava o tudo,
Descartava o nada.
Adepto do Ansiolítico,
Chamado cachaça,
Era pura,
Assim como sua reflexão,
Sobre o avesso do mundo,
Onde o tempo não para.
Há tantos caminhos,
Escolheu o mais fácil,
Que se tornou o mais difícil,
Pela cobrança imposta pelo mundo.
Pessoas não o entendiam,
E o criticavam.
Assim,
Sempre que podia,
Fugia de si,
Dos outros.
Cabeça tonta,
Assim relaxava.
Ah cobranças!
Não é só de dívidas,
Para tudo há um padrão,
E para aqueles que não seguem,
Exclusão.
Sofreu por valores alheios a sua personalidade,
E as dores?
Quanto mais sentia,
Mais apanhava.
A bruxaria o salvava,
Poção mágica.
Jogava uns trocados no balcão,
Em troca um copo,
Completo pela malvada.
Agora encarava o mundo,
Não tinha medo de nada,
Batia,
Apanhava,
Xingava,
Mandava tudo às favas.
Até ser consumido pela sensação de sono,
Kriptonita é o travesseiro,
Ali,
A cabeça relaxava.
Acordava,
Deixava a moral na cama,
Pra que?
Não servia de nada,
Outro dia,
Nada aconteceu.
Deus deve estar ocupado,
Atende por hora marcada.
A vida é um eterno retorno,
Coragem em doses,
Começo de tudo,
E início do nada.
A solidão acomete a quem não pensa,
Não fuma,
Não bebe,
E ainda anda sozinho.
Triste solitude.