Porco
Socorro! Descobriram a nudez de meus segredos mais fétidos
Finalmente espremeram a última gota de pus desta alma inflamada
Eu estava atônito, sozinho, quando no fundo do quarto sem luz
Acenderam uma lanterna sobre o meu peito aberto em desvario
Era só mais um momento de despropósitos cheios de lascívia
E como quem cata migalhas de decência para ornar a própria face
Escondi-me encolhido e ensimesmado como se não estivesse a vista
Até aquele instante havia um coração, podre, mas que se achava decente
Alimentando-se apenas com a insolência de gestos cheios de reprovação
No começo aquele lugar era como um jardim florido de begônias
Uma beleza exuberante que atraía juventudes e prazeres tolos
Mas aos poucos a minha presença foi queimando tudo com desgraça
Até que a fumaça restante e tóxica de um caráter consumido pelo corpo
Detonou para fora o ar pútrido de quem realmente exalava aquele ser
Então arrombaram o cativeiro onde se prendia minha dignidade por anos
E agora fui feito símil ao organismo bacteriano nocivo à própria vida humana
Que ao deparar-se com os anticorpos da moralidade de mentes castas e sadias
Degenera-se mais, a ponto de transformar geneticamente este ser pessoal
Em um corpo estranho à natureza tão enraivecidamente sapiencial
Um cerdo gordo que cai ao peso de ruminar as lavagens de sua existência
E que até este inesquecível momento de defloração inesperada
Não tinha se dado conta ter se tornado outra espécie tão deliberadamente vil