TUA CASA
Edifica a tua casa
Com portas feitas de vento,
Pisos de pensamentos
E janelas feitas de asas.
Corredores oblongos
Pela lua iluminados,
E paredes transparentes
Que conduzem a amplas salas
Com telhas feitas de estrelas
Ou de luz do sol quarada.
Edifica a tua casa
E a abençoa em silêncio
Pelo fogo e pela água.
Convida a coabitá-la
Salamandras e ondinas,
Zéfiros, fadas, duendes,
Pessoas que ainda são,
Pessoas que já se foram
E as que ainda nascerão.
Canta, do alto da escada,
Canções que sejam divinas,
Borda toalhas e fronhas
Com os sonhos do presente,
Com as linhas das memórias
E as miçangas do futuro.
Edifica a tua casa,
Mas constrói, com zelo, um muro,
Que não seja muito alto
Mas que sirva de limite
Entre o terreno e a estrada.
Planta flores delicadas
Que atraiam passarinhos,
Deixa que a chuva, nas calhas,
Misture as canções das nuvens
Com as canções dos telhados,
Escorrendo nas vidraças
Quando a vida for levada.
Edifica a tua casa
Sabendo que não te pertence.
Amanhã será ruínas,
E tu, não serás mais nada,
Mas ressignificada
Será a vida, por causa
Dessa casa edificada
Pelas mãos que foram tuas.