TUA CASA

 

Edifica a tua casa

Com portas feitas de vento,

Pisos de pensamentos

E janelas feitas de asas.

 

Corredores oblongos

Pela lua iluminados,

E paredes transparentes

Que conduzem a amplas salas

Com telhas feitas de estrelas

Ou de luz do sol quarada.

 

Edifica a tua casa

E a abençoa em silêncio

Pelo fogo e pela água.

 

Convida a coabitá-la

Salamandras e ondinas,

Zéfiros, fadas, duendes,

Pessoas que ainda são,

Pessoas que já se foram

E as que ainda nascerão.

 

Canta, do alto da escada,

Canções que sejam divinas,

Borda toalhas e fronhas

Com os sonhos do presente,

Com as linhas das memórias

E as miçangas do futuro.

 

Edifica a tua casa,

Mas constrói, com zelo, um muro,

Que não seja muito alto

Mas que sirva de limite

Entre o terreno e a estrada.

 

Planta flores delicadas

Que atraiam passarinhos,

Deixa que a chuva, nas calhas,

Misture as canções das nuvens

Com as canções dos telhados,

Escorrendo nas vidraças

Quando a vida for levada.

 

Edifica a tua casa

Sabendo que não te pertence.

Amanhã será ruínas,

E tu, não serás mais nada,

Mas ressignificada

Será a vida, por causa

Dessa casa edificada

Pelas mãos que foram tuas.

 

 

 

 

 

 

Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 20/06/2022
Reeditado em 20/06/2022
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