CAMINHO DE VENDAVAIS
Caminho sobre meus cacos
Em relógios atrasados
De vidros pintados em cinza
E sobre as cinzas me desfaço
Um caco entre outros cacos
A procurar sua feitura
Em meio ao mar de candura
Vertido em outros abraços
Caminho sobre os escombros
De vida que não amanhece
Nenhum momento era eu
No outro o eu me esquece
Se já nao sou quem sou mais
Se a cada dia jamais
Quem se lembra se enternece
Caminha, pés sujos de lama
Caminha com desenvoltura
Os pés já estão cansados
De trilhar em desventuras
Mais cansados são os olhos
De chorar por amargura
Se espera por quem ama
Se no desespero se cura
O caminho não vai longe
Ele vai por si sozinho
Ninguém anda por si só
Se é levado pelo caminho
Não sei se vou ou se fico
Se ficasse eu sei que ia
Se caminho atento a tudo
Eu já fui enquanto parto
Dividir as minhas partes
Em bagagens pros ingratos
A jornada ainda é minha
Como eu e meu são rivais
Como fecham-se a cortinas
Se advêm os temporais
Choveu na estrada e fez lama
E fez mesclar os desiguais
Quando choram e reclamam
Relembrando todos os ais
Mas não me importo, só ando
Meu pés calcam desassombros
Enlevo a vida nos ombros
Enquanto assolam os vendavais
14/06/2022
09:35hrs