RESGATE

A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.

OBS: Primeira estrofe do poema ¨A Criança que Fui Chora na Estrada¨, de Fernando Pessoa.

RESGATE

Abandonei-me covardemente, de modo impulsivo, no inicio da caminhada

Não tive nenhuma comiseração para comigo, apesar da tenra idade

Por que?

Pra que?

Não consigo responder e nem entender ato tão agressivo

Lembro-me, vagamente, que achava correto e que era minha verdade

Verdade construída sobre os alicerces da vontade,

Sem qualquer humildade

Talvez tenha me deixado levar pela auto imagem

Impressionar criaturas que estavam na minha paisagem

Era o máximo da coragem

Vim, vi e cresci

Amadureci

Evoluí?

Quando olhei pra trás vi que a criança que eu fui suplicava para que eu voltasse

Mas já era tarde, não tinha força ou quem sabe interesse

Nem necessidade

E assim eu segui

Mas quando envelheci, voltei a me lembrar da criança

E de como destruí sua esperança

Queria que, se pudesse, dentro de mim ela estivesse

Ou que minha alma a trouxesse

Pois que, ao resgatá-la, estaria me resgatando

O tempo não deixou

Muita coisa se passou

Porém, nem tudo se acabou

Agora, olho pro espelho e vejo seu reflexo

Admirando aquele fedelho que um dia, perplexo,

Viu eu deixá-lo chorando na estrada

Hoje já não chora, mas está cansado da jornada velada

Quer voltar pra morada

Marco Antônio Abreu Florentino

]Nota: Poema inspirado na linda, profunda e psicanalítica poesia de Fernando Pessoa: ¨A Criança que Fui Chora na Estrada¨.

https://youtu.be/-gWXQ9-PTeo

(Sou Uma Criança, Não Entendo Nada - Erasmo Carlos)