Fecham-se as Cortinas
Meus velhos textos,
O que dizem sobre mim?
Quase nada do presente,
Muito do passado,
E de um futuro,
In memoriam,
Sem fim.
Me transformo a todo minuto,
A cada instante,
Já não sou o mesmo do começo,
Tão vivo,
Tão inconstante.
A cada mudança,
Me aproximo do fim,
Mas isso não me faz melhor,
Nem pior,
Me faz ser humano.
Bebo do segredo da vida,
Me torno sagrado,
E Profano.
Segregado da origem,
Imposto à um começo,
É a luta contra o cotidiano.
Minha herança é escrita a lápis,
Em um pouco de tinta em um pedaço de papel,
Ordenada,
Pelas letras de um teclado,
Expostas em uma tela,
Sem o uso do pincel.
A tanatopraxia é realizada em vida,
Um terno,
Para os poucos convidados,
Servido um delicioso prato quente,
De sopa de letrinhas.
Irás sozinho?
Não.
Levarei para companhia uma edição de Papilon,
Em busca de planejar minha fuga.
Uma seresta para rasgar o silêncio,
Cachaça com canela,
Doses de mim distribuídas,
Drama,
Mas também alegrias,
Chega ao fim o espetáculo,
Tudo que a maioria dos espectadores esperavam,
Baixem a tampa,
Fecham-se as cortinas.