Anjo de pés sujos
 
Automaticamente, acendem-se
pendentes faróis da praça
A revelar e marcar um corpo
franzino, atrofiado e inerte
Ainda assentado,
sobre papelões e trapos
Esperando angariar centavos,
Suplica sem som, o faminto!
 
Fotografado pela luz da lua cheia
na boquinha da noite
Entre raízes, expostas,
Folhas secas, num bonito jardim
A pracinha, desde muito
seu aconchego sagrado
A começar ressonar com alguma paz,
o pobre esquecido, coitado!
 
Iluminado por mais de mil estrelas
(bem mais...)
Talvez dando cores a sua fértil
e utópica imaginação
Acariciado pelo pulguento,
com o qual divide seus escassos farelos
Assim ressona, adormece e sonha,
o desprovido, pé de chinelo!
 
Em sua aura transparente
Um cordão de leds, de vagalumes
Que giram, giram numa noite especial
...véspera natalina, com sonhos de natal
Mais parecendo velar seu sono,
a prenunciar sua despedida
Ali, a entorpecer seu fastio,
desfalece o despojado adormecido!
 
Como acenderam-se automaticamente, desligam-se todas as luzes
Tímida aurora e um prometido sol vindo, mas bem de longe...
Da lua cheia, das estrelas coloridas e do belo cordão de vagalumes...
Apenas deléveis marcas no firmamento fulgurante azul
 
Na praça apenas um mirrado corpo e seu fiel cãozinho,
Acobertados pelos céus, cobertos por sereno e dó, abençoado por Deus
Do nada, surgem curiosos direitos e alimentados, e sem culpas
E eis que estirado ao solo...
surge seu linimento...um esquife !
EFLÚVIO DE ARREBOL
Enviado por EFLÚVIO DE ARREBOL em 16/04/2022
Reeditado em 17/04/2022
Código do texto: T7496205
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