Rainha
Ela tece o dia com fiapos de meadas
Banhadas em cores e secas ao sol.
Seus braços fortes
Vão entremeando fios no tear da vida
E o pano do dia é cor de urucum molhado
Cor de telha chovida
Cor sangrenta de dores e suores.
Ela vai compondo cantigas
Melismas e versos
Transversais como seu dia
Habilidades tantas feito os fios
Feito as marmitas frias.
É quase devocional
Sua altruísta medida
De fazer o muito no tempo que não lhe cabe
No espichadinho das horas preguiçosas que não tem.
Alisa o leão pela patinha,
Ela o domestica
Não mata, mas salva
E lhe coroa com a manta urucum
Tecida de agruras e feridas.
Domina a fera que é sua vida.
Desfila leonina sua desgraça
Tão cheia de graça
Rainha.