COMO NUNCA ANTES
como nunca antes
os sapatos estavam no centro da casa
entre a sala de estar
e o que deveria ser a sala de jantar
e durante todo o dia alheio
pasmando as ultimas passadas
imagens textos desenhos escrita visões
ultimas vias atalhos vielas
dos últimos cruzamentos fronteiras
de anos de dias recentes
de terra sertão de areia litoral
de asfalto centro calçadas coloniais
praças festivas bueiros semáforos
e sobretudo do chão sobre chão pisados
por fantasias criados
os nossos limites
por vezes acalantos aos pés
por outras areia movediça
havia também uma memoria pele
uma memoria derme unhas mãos
tintas canetas agulhas tecidas tecidos
uma memoria artéria
e uma memoria da língua que falávamos juntos
e eram isto
o movimento memoria chão se dava
pelos dias meses o ano
e pelos sapatos
que como nunca antes estavam no centro da casa