Ponto de cisão

Eu, que há muito ando a espreita

Com medo de mostrar minha nudez aos olhares alheios

Caminhando por entre sonhos e neblinas

Hoje me despeço de mim mesma

E finco os pés na luz da minha presença.

Eu que tenho sido tão frágil em ser eu mesma

Que tenha sido tão dura em minhas ações e pensamentos

Que tenho lutado tanto na vida

Armada até os dentes pronta para atacar ou para fugir

Deixo-me sucumbir

E desmorono em meu próprio chão de incertezas

Caindo do meu assento de fraquezas

Meus medos estão todos expostos

Minha alegria é pouca embora profunda e sincera

Com a fé intensa e crescente

Meus lábios se calam em meio a tanto ruído

Assim ouço melhor,

Assim me vejo inteira nos pedaços que agora livre se desprendem

Meu corpo não é forte o bastante

Nem minhas mãos tão precisas e infalíveis

Minhas palavras não tão sábias e bem ditas

Mas ainda guardo o sopro vital da chama infinita que me habita

Que me desperta pouco a pouco

De tudo o que escondi e protegi dentro de mim

De tudo que ainda tenho a descobrir

De tudo que é urgente revelar

Revirada e com olhos procurando o ponto de cisão

vou recosturando a alma que eu sou

Finco minhas raízes no meu único possível e verdadeiro abrigo: o coração.

Rodonita
Enviado por Rodonita em 08/03/2022
Código do texto: T7468113
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.