Ponto de cisão
Eu, que há muito ando a espreita
Com medo de mostrar minha nudez aos olhares alheios
Caminhando por entre sonhos e neblinas
Hoje me despeço de mim mesma
E finco os pés na luz da minha presença.
Eu que tenho sido tão frágil em ser eu mesma
Que tenha sido tão dura em minhas ações e pensamentos
Que tenho lutado tanto na vida
Armada até os dentes pronta para atacar ou para fugir
Deixo-me sucumbir
E desmorono em meu próprio chão de incertezas
Caindo do meu assento de fraquezas
Meus medos estão todos expostos
Minha alegria é pouca embora profunda e sincera
Com a fé intensa e crescente
Meus lábios se calam em meio a tanto ruído
Assim ouço melhor,
Assim me vejo inteira nos pedaços que agora livre se desprendem
Meu corpo não é forte o bastante
Nem minhas mãos tão precisas e infalíveis
Minhas palavras não tão sábias e bem ditas
Mas ainda guardo o sopro vital da chama infinita que me habita
Que me desperta pouco a pouco
De tudo o que escondi e protegi dentro de mim
De tudo que ainda tenho a descobrir
De tudo que é urgente revelar
Revirada e com olhos procurando o ponto de cisão
vou recosturando a alma que eu sou
Finco minhas raízes no meu único possível e verdadeiro abrigo: o coração.