Racional, só coração de mãe
Quando era menino, queria ser astronauta
Só esqueci de combinar com a gravidade
Essa birrenta
Tentava e tentava e tentava
E não saia do lugar
Tens de manter os pés no chão, mamãe dizia
E o que mais posso fazer, pensava
Se o universo poda as asas de quem sonha demais
O tempo dilatou o desejo
Mas a vida contraiu o tempo
Minha constelação agora é a vizinhança
Meu telescópio são esses velhos óculos
Por onde enxergo o mundo que me cabe
O brilho que me sobra
A certeza que escorre
E teimo em não deixar ir
E o que mais posso fazer, pensava
Se tudo que sei é tentar voar
Há, certamente, algo de mágico nesse cosmos
Milhares de corpos celestes
Milhões de corpos sem norte
Vagando pela eternidade
Buscando pelo indecifrável
Clamando por uma razão absoluta
Como se, alguma vez, o acaso cedera a lógica
Racional, só coração de mãe
Que sequer pode conter
Os anseios afoitos de um menino
Decidido a embarcar nessa odisseia impossível
Em outra galáxia
Ou numa folha de papel