Homo sapiens

Gerações transcorrem, eras se vão

Cepas humanas, versadas no morbo social,

Bestas indomadas na esfera do caos,

Seguem feridas, mas em frente, tenazes;

Dança mística dos aminoácidos essenciais,

Forças telúricas, eventos cósmicos,

Todas as variáveis coadunadas,

O homem e outras linhagens ferais,

Alheios ao todo, filhos de instintos,

Semeados e crescidos de prazeres fugazes,

Herdeiros da fúria e tensões animais,

Errando nos interstícios do Samsara,

Qual fosse mero lugar, e não sua condição,

Com sangue o primata ereto registra

A narrativa de sua passagem pelo orbe denso,

Retoma do início, outra vez, seu rumo incerto,

Reescrevendo, por vício,

quase idênticas páginas de desilusão.

Ártemis, te sinto no ar,

Da natureza humana o primeiro urro,

A tensão extrema da gênese,

Ainda ecoando desde a aurora primal,

Fecho os olhos e escuto a vida.

O que é, enfim, viver?

É menos razão e mais reflexo,

É mais a fome do que a poesia.

A força de que todo ser é vetor,

O irresistível influxo, um agir visceral.

Não esperarei sentado a idealizada paz,

Um milhão de flechas ainda tenho a disparar, Diana.

Nos mesmos planos transmigro,

Não sou exceção.

Acumulam-se desejos não saciados,

Pó de ouro que se foi com o aluvião,

Mais de mil corações dilacerados,

E duas ou três conquistas dignas de menção...

Ainda assim, recalcitrante da existência,

Curado pela acidez humana,

Sigo dizendo não.

Seja sob a armadura engravatada,

um mimetismo banal,

Ou mesmo nu em pensamento,

Acuado, aflito, desarmado.

Descrito, analisado e ainda obscuro,

Em frente ao espelho, ora impreciso, de mãos atadas,

Sem poder ocultar as vergonhas.

A vergonhas que a mente cogita.

Submetido ao crivo mais rigoroso,

O mais preciso reflexo frontal,

Vejo um homem crescido e ainda nascituro.

Reincidente no crime do egoísmo doloso,

Após mais de centena de desterros,

Outra janela se abre, nova luz invade.

Sigo meu rumo, sem pedir aval, e deduzo:

Prefiro conviver com a minha vasta coleção de erros

a ter de suportar a culpa de uma só omissão!

Weber Palmieri
Enviado por Weber Palmieri em 20/02/2022
Código do texto: T7456567
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