Imperfeição
Repare em mim
Mas não assim, torpe
Como quem repara na flora da primavera
Constrito, inerte
Apenas porque enfeita-se outrora
E cativas olhares vãos
Repare em mim
Mas não assim, displicente
Como quem repara no pôr do sol
Distante, fugaz
Sabido de que se perdê-lo por uns instantes
Tornará a brilhar outra vez
Repare em mim
Mas não assim, pesaroso
Como quem repara nos arcos-íris
Pragmático, reticente
Contando os minutos em que desaparecera
Enquanto suas cores se metamorfam
Não repare em mim
Por ser belo ou único ou eterno
Repare em mim
Pois não almejo ser nada disso
E ainda assim sigo aqui
Exposto, inteiramente livre