Cotidiano
Abri os meus olhos
Levantei-me
Encarou-me o espelho
Sorri
Admirei as linhas do tempo em meu semblante
Ainda um pouco zonza de ontem
Segui
Senti-me viva quando o sol beijou a minha pele
Respirei
Então andei em direção à incerteza
Levei as perspectivas em meu bolso
E vi
Rostos alheios lá e cá
Num fluxo contínuo
Na estrada movimentada da vida
E continuei
Incansavelmente uma rotina infinita
Em um existir finito
Mas não me contive
E vivi
Abracei gente e árvores
Beijei rostos, bocas e rosas
Dialoguei profundamente com as plantas
Senti a lealdade dos animais
Feliz ou triste
Audaz ou acovardado
Eu fui
Sorri de novo e chorei incontáveis vezes
Forte, fraco
Transbordando e por vezes vazia
Mas segui
E cativei amores
Colecionei dores
Senti o gosto amargo
Me perdi inteira no doce
Fechei os meus olhos
Refleti
E vi a vida sendo vida
Em um mar apaixonante de inconstâncias.