Um astro na varanda
Não suspire mais assim
esses suspiros de dor que abafam gritos
depois se afoga em amargos lamentos
que, suspirando, resolveu guardar
"é melhor pra todo mundo"
adoramos inventar essas verdades
"quem será esse todo mundo?"
o ar se esvai ao repensar a realidade
certa noite, um astro veio à minha varanda
tanta luz que nem o ví,
tantos graus que me desfez
só sei que veio pois senti que vem outra vez
e toda noite, eu o espero de novo
o busco pelo parapeito, antecipando sua luz
só o que encontro é o escuro, e seu abraço
seu frio toque que além do sonho me conduz
não há varanda, percebo logo ao acordar
tudo está frio, pisco meus olhos devagar
nunca parti, nenhum astro veio me queimar
devagarinho, alimento a caldeira
a combustão não pode parar
enquanto houver em mim pedaços
para arrancar e lançar à caldeira
a combustão não pode parar
até que não sobre nos suspiros
nenhum sonho para incinerar.