História

Anoitece nos meus sonhos...

As estações de uma vida.

O perfume da primavera exala no meu quarto.

O verão anuncia a vida ainda jovem.

O outono traz a realidade da vida de trabalho.

E o inverno encobre o amor de umas férias.

Anoitece n’alma o colorido da estrada de barro,

Percorrendo caminhos de um Cachoeiro de um rio Itapemirim...

Meu pai na fazenda, a bola caída nas águas de um córrego,

Que rasgava o quintal da casa de minha avó,

Como uma serpente engolindo as brincadeiras de infância.

O medo da noite eterna se abrindo em estrelas

Aumentando o perfume da lenha ardendo em brasa.

Minha mãe conversando com a vizinha

E eu admirando a beleza da menina,

Que me olhava como quem procura o mar.

Eu tinha apenas dez anos, não pude rasgar o oceano do brilho do seu olhar.

Anoitece meus desejos perdidos no coração de criança,

Encontrados tempo depois no corpo de um adulto.

Bonsucesso, Laranjeiras e Tijuca...

Pedacinhos de lugares que formaram uma cidade,

Uma cidade que se transformou em mundo…

Friburgo, Petrópolis, Niteroi e Rio Bonito...

Cidades povoadas de sonhos e realidades…

São Paulo e Rio de Janeiro, Estados que deixaram o filho que não tive, mas quase cheguei a ter…

Ficou na história manchada em sangue e marcada no tempo na pele de quem um dia sonhou.

Chile, Espanha e França…

Países que forjaram meu mapa mundi.

Anoitece a morte em minha vida,

O Rio da vida enfraquece em minhas veias

E descubro a solidão da presença...

A mais aterradora das presenças que é minha própria presença banhada em solidão.

Olhar os olhos de quem toma o café contigo

E não sentir se quer a ternura do coração pulsando

E se sentir frio com a sensação de quem morre.

Anoitece a noite nos meus dias...

Desperta a manhã na minh’alma...

Anoitece a morte em minha vida

E a vida desperta no vácuo do universo,

De um universo escuro iluminado por estrelas e vazio como um poço no deserto que não consegue afogar a sede de viver da criança.