Vala, vela e caixão

Cavo,

Procuro,

Arrebento os dedos.

Tamanha vontade,

Que nem penso,

Do quanto tenho medo.

Percorro cada canto,

Me abro,

Me viro,

Do avesso.

Vejo o fim,

Mas não acho o começo.

Ré, começo,

Recomeço,

Reconheço ser difícil,

Voltar ao início,

Depois de tantos tropeços.

Calos,

Feridas,

Que não cicatrizam,

São tantas partidas,

Não somos os mesmos.

Vícios,

Telas,

Mentiras nas nuvens,

A nossa inocência,

Se perde no meio.

No meio que a bola rola.

Falta!

Lateral,

Escanteio,

Atacante de frente para o gol,

No chute,

Acertou o zagueiro.

O menino em mim morreu,

Restou a lembrança,

Carrego os anseios.

A bola não rola,

A grama asfaltada.

E o tempo destrói a criança,

Seca a esperança,

Traz dores,

Do corpo e da alma,

Limita,

Faz ir,

O que ainda não veio.

Calma!

Prazer é vontade que passa,

Lute pelo que pode comprar o dinheiro,

Desejos saciam com água,

Levante do sono,

Deixe os sonhos no travesseiro.

Não pense,

Pois há perigo,

Conhecimento arrebenta esteios,

Crime é não ser compassivo,

Quando te ofendem,

E te apontam o dedo.

Legislação é para os "grandes",

Em domínio dos "pequenos".

De assalto,

Perdeu sua alma,

Dominaram o seu corpo,

És peça,

Máquina em produção.

Doutrinaram sua mente,

Recriaram uma fé,

Onde Deus é exploração.

Se enquadre,

Ou será enquadrado,

E que o grande líder,

Te conceda a permissão,

De morrer com dignidade,

Ceda a vala,

Vela,

E também seu caixão.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 10/01/2022
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