AGORA HÁ POUCO
Esqueça das metafísicas
Elipses, flashbacks e profecias.
Esqueça das ciganas deitadas nas calçadas
E dos anciões incorporados nos barracões
Esqueça dos párocos que arrastam sermões
E dos búzios sujos de fantasias
Esqueça das cartas, dos signos, das estrelas e das pragas.
Esqueça do início e do final do caminho
Do oásis e da pedra no meio do caminho
Esqueça do caminho.
Tendes este exato segundo de morte celular
Em que no reino quântico as bactérias operam o milagre da finitude.
Tendes dois pulmões que tragam este segundo de prazer e azar
Esse segundo que já fora devorado pela compulsão de Cronos.
Tendes, pois, à revelia deste novo segundo, a possibilidade de não ser
Como toda diáspora que escrevi agora há pouco.
Tendes o sono e a raiva e o ódio e o rancor e o medo
Uma caixa de pandora que se abre na velocidade da luz de um segundo
Que já não tendes mais.
Tendes a luz para iluminar dois pés que deveriam permanecer como um par de árvores frondosas.
Ainda tendes pés.
De que servem os pés?
(Italo Samuel Ferreira Wyatt)