DE TODOS
Nada nos abala, quando em nossa fala está guardada a verdade.
Nada nos cala, quando o corpo das palavras exala o aroma orvalhado da
essência impreterível que banha as células de clareza.
Nada nos amedronta, enquanto a ponta estiver solta, enquanto a outra não for
fiada.
Nada nos exime, enquanto o crime da casa grande não for sanado, enquanto o
fogo que queima a pele negra não for apagado.
Nada nos intimida, até que seja relida a carta da igualdade, à luz dos atos
a sarar os maus tratos.
Nada nos menoriza, queremos que a riqueza da vida ressoe através dos
ventos, que é para todos.
Nada nos empobrece, o que tece nossa dor é a grandeza.
Nada nos arrefece, se a chuva derreter os barracos dos morros,
a gente ergue um novo.
Nada nos desmonta, somos a chave que gira a engrenagem, a parte da
viagem que não pode seguir sem nós.
Nada nos liberta, até que a última telha se junte às demais, até que os últimos
pardais se unam à canção que vai nos alforriar da opressão.
Ninguém tira o orgulho negro de nossa pele.