Memória
Uma grande memória tenho em meu coração
Mesmo quando se apresenta nublada e fugidia,
Ainda sei que ela reluta e permanece
em seu espaço sagrado e cultivado por tantas eras.
Por instantes a vejo diante de mim
Quase me cega...forçando-me a relaxar as pálpebras para de fato vê-la
Face a face, penetra meu olhar e me conta sua história
História sem começo e que tão pouco tem fim...
Em tanto espaço e potências reconheço-a,
A sós, na multidão, em sonhos, devaneios
Entre acertos e erros
Em verdades e ilusões
Em intenções sinceras e fortes paixões
Quando me esperanço e quando me desespero
Quando amo e quando odeio
Quando não quero e quando busco
Quando me dou por vencida e quando me levanto do chão
Quando falo e quando me calo
Quando sei e quando desconheço
No movimento ou no hiato
Ela permanece aqui.
Quantas vezes cruzo os braços e a ignoro por simples medo de deixá-la existir...
E tantas outras rasgo o peito e suas chagas que ainda sagram inundam o meu ser
Se a acolho ou se a temo ela simplesmente me aceita e sorri
Como a luz de um farol no vasto oceano
Que orienta sem pedir licença ou perdão
Como o orvalho que cai à noite na folha só pra cumprir sua missão.
Quando confiante eu a indago: “quem é você e o que faz aqui?”
...
A resposta é sempre em silêncio e cheia de mistério:
“Eu sou”.
...
Debochada replica: “Você não se lembra de mim?”