Travessia
No início de tudo
Ela se pôs a caminhar
E até o findar do tempo
prometeu a si mesma nunca parar
Com elegância e encanto
Ela se vestiu
E num sonho iluminado persistiu
Recebeu todos os presentes e aplausos por onde passou
Numa noite insone
Ela se despiu
Rasgou todo o seu linho
Retirou dedo a dedo suas luvas de veludo
E se lavou
Sozinha e sem defesa
Banhou-se em seus prantos
E na luz da noite escura continuou
Restara apenas o seu destemor
Conheceu todos os buracos do mundo
Explorou todos os cantos
E por frestas estreitas atravessou
Recebeu olhares esquivos
Sussurros tácitos e risos frios
Sua nudez era nítida
Mas ninguém a notou
Num dia claro como o sol
Ela mesma se encontrou
Acuada num canto
Avistando o céu
Seus passos desaceleraram
E seu coração cresceu e transbordou
Vestida de inocência e brisa
Ela então parou.
Naquele mesmo instante
O tempo explodiu e se findou
O que era móvel e impermanente transcendeu!
O fim e o início deram as mãos!