PÁTRIA IMUNDA
Venho vender a quem não quer comprar,
tempo de espera e tristeza de pátria suja.
Não tem santo que me salve,
não tem samba que sobreviva,
não tem verso que seja remédio,
nem bandeira que não seja de asco.
Eu nunca vi essa aquarela,
nunca vi quem do ouro se desfaça,
nunca vi quem da pobreza ache graça,
nunca vi a redenção.
Lamento o azul do manto da padroeira,
lamento a revolta que virou menos valia,
lamento o ebó arriado às pressas,
antes que o dia trouxesse a agonia.
Alegria não vendo nessas terras,
onde esperança tem o verde do ódio,
e fé tem o amarelo da cegueira.
Vou-me embora pra lá ou pra cá,
pra vender a quem não quer comprar.