Um lugar inalcançável
Sempre em frente
sem desvios
o dia está lindo,
não faço queixa
sorrindo finjo que ainda posso continuar
você sorri e finge que não me deixa
em todo reflexo, um estranho
sem nome, origem ou vontade
uma peça desconhecida, nova
que não me apresenta nenhuma novidade
ao sair, vejo o mesmo céu
as mesmas nuvens nas mesmas cores
"amanhã vem chuva, depois faz frio"
sussuram os mesmos ventos, as mesmas dores
o jardim é apenas uma sombra
de muitas sombras de um outro tempo
consumidas por pragas, sem sofrimento
regadas de dúvidas, "por que eu tento?"
para ser livre das escolhas
me afogar em lago raso
para ser guiado manso
pela mão fria do acaso
e com súbito pavor, te busco
desconhecidos sem paixão, e só o que há
de repente em sua dor, me assusto
me desperto e logo corro para te encontrar
ao meu lado, outro artífice
do seu calor, um esboço rude
amargo olhar, pesados passos
um riso minguado, e talvez ajude
por onde encontro lugar para descansar?
meu peito incapaz só maquina o lamento
se minha voz já não pode a ti chegar
onde estás, se não em outro tempo?