Desdém particular
Já há muito não te vejo
nada me convence a encarar o espelho
fujo da tua voz, com receio
como se meu fim viesse logo ao ouvi-lo
nosso tempo, fora dos trilhos
já não tem mais estação para chegar
no palco vazio, não fazem falta os aplausos
quando o artista já não espera os escutar
seu suspiro sozinho, narra
mostra mil histórias de inocência ingênua
seu suspiro após longo choro, ilustra
conta um alívio de tormentas que lutamos para queimar
o pobre ventríloquo, balança suave
na sua cadeira favorita, por ele escolhida a dedo
sob pilhas e pilhas de privação
esquecido de propósito, pelo bem de um forasteiro
de que adianta, a partir do próprio sangue
projetar mudança que de dentro não se vê?
para ser alguém que em verdade, sempre fomos
ou mesmo alguém que nunca precisamos ser
não mais te espero, não mais te busco
caminho sem ti como sempre caminhei
se sua vontade me encontrar, que seja longe
pois minha própria vontade, logo logo esquecerei.