Em Construção
Sou do tempo de cadeiras nas calçadas,
Brincadeiras de ruas,
De ficar contando histórias até de madrugada.
Sou do tempo que malandro trabalhava,
Dono do próprio dialeto,
Andava de peito aberto,
Cabeça erguida,
E para família não deixava faltar nada.
Sou do tempo que briga se resolvia na mão,
O mais forte é quem vencia,
Fraco dependia da sorte,
Ou treinava à exaustão.
No meu tempo futebol se jogava,
Bola rolava,
Nos campos,
Na várzea,
Asfalto ou terrão,
Chuteiras ninguém usava,
Tínhamos o dedo sem tampão.
Neste tempo o cigarro era moda,
Tecnologia,
Relógio de ponteiro,
E nossa televisão.
Nosso medo se resumia a morcego,
O cachorro da esquina,
Da casa abandona,
Com um lindo e carregado pé de João Bolão.
O mar me ensinou a nadar,
A campainha da rua de trás,
A correr até a escuridão,
Alpinismo praticado em árvores,
Controle por orelha,
Bastava um puxão.
Dormíamos de cansados,
Ansiavamos pela rua,
Aprontaravamos,
Mas tínhamos educação.
Respeito ao mais velho,
Ordem na escola,
Hoje tudo é passado,
Apenas recordação.
Deus me conceda sabedoria,
Para lidar com a evolução,
Sem viver em melancolia,
Ser presente em toda essa teoria,
Que nos leva a um lar-prisão.
Não quero ser chamado de velho,
Mas se chamarem,
Não nego.
O tempo passou por mim,
Mas ainda longe do fim,
Sou herói,
Ainda em construção.