Quadros Caídos

Saí de casa pra não ficar preso

Busquei uma janela pro sótão

Livros velhos guardados

No mesmo baú da perdição

Folheando figurinhas de heróis

Queimei desenhos do primário

Li registros de papel em caracóis

Não identificados nos armários

Dois homens lutando de carro

Caçavam vaga num estacionamento

Parei no semáforo no amarelo

E causei um novo engarrafamento

Comprei uns pães ao preço de vinho

Sangria nacional com gosto de gente

Meus dedos senti formigando

Pinga é mais cara que aguardente

Quanto mais tento, erro

Sei que estudo pra esquecer

Quanto mais erro, desisto

Todos os dias esqueço de saber

Mesmo quando Aristóteles gritava

Que é possível ter vida nisso!

Descarto o que ouvi de Descartes

Penso que é pouco se apenas existo!

Ouvindo a "Violência Fazer seu Trottoir"

Apedrejei a vidraça de algum birô

Limpei as mãos em pânico pra ocultar

Fugi pro meio do mato de tanto horror

Prometi algo que não pudesse cumprir

E pensar que houvesse saída na bondade

Dúvidas sobre alheias intenções

Cujas razões não compreendi a metade

A guerra vive dentro dos homens

O herói só existe se houver crime

A vítima é autora de outro delito

Medo é o veneno que o ódio exprime

Glaussim
Enviado por Glaussim em 19/05/2021
Código do texto: T7259410
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