SILÊNCIO

Ontem fui ao enterro do silêncio.

Lá estavam o vento, o rumor,

o barulho da folha caindo ao chão,

o som das asas de uma borboleta,

o barulho do relógio do tempo.

Nunca mais haverá o silêncio completo,

como dizem, pois todo este mundo

é feito de partículas e o silêncio

é uma delas.

Por mais que escrevamos palavras quietas,

elas sabem escutar o ranger

dos próprios ossos,

caminham sobre brancas folhas,

reluzem, e o brilho do ouro

tem seu próprio barulho.

O mistério da vida está no som

que atravessa o espaço cósmico

e se traduz como música

ou um poema recitado.

Enquanto minhas moléculas

produzem sinfonias intramoleculares,

escrevo a palavra silêncio

com um grito na garganta.